segunda-feira, 4 de julho de 2011

Escrevo, triste, no quarto quieto, sozinho como sempre

tenho sido, sozinho como sempre serei. 

E penso se, a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, 

Não encarna a substância de milhares de vozes, 

A fome de dizerem-se de milhares de vidas, 

A paciência de milhões de almas submissas como a

minha no destino quotidiano ao sonho inútil, 

À esperança sem vestígios. 

Nestes momentos meu coração pulsa mais alto 

Por minha consciência dele. 

Vivo mais porque vivo maior. 

Sinto na minha pessoa uma força religiosa, 

Uma espécie de oração, uma semelhança de clamor. 

“Mas a reação contra mim desce-me da inteligência...”


 FERNANDO PESSOA

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